Matou o gari e foi à academia

Representação gráfica do crime, como na imprensa marrom de antigamente. (Foto: ChatGPT)



Porto Velho, RO -
Na vida real, a notícia mais comentada não é a possibilidade de a Lei Magnitsky alcançar outros ministros do STF. Nem a vergonhosa entrevista de Lula a Reinaldo Azevedo, criador do termo “petralha” convertido ao petismo ortodoxo. (Vocês viram aquilo?). A notícia mais comentada nos pontos de ônibus, elevadores, corredores, portarias e botecos deste Brasilzão-de-Meu-Deus é o assassinato do gari Laudemir Fernandes.

Diz a crônica policial que Laudemir trabalhava quando o motorista de um carro começou a se incomodar com a lentidão do caminhão de lixo. O carro (fala-se num “BYD de luxo”, uma contradição em termos) seria dirigido por Renê da Silva Nogueira Júnior, principal suspeito pelo crime. Irritado, Renê (novamente na condicional, porque não sou irresponsável) teria ameaçado “atirar na cara” da motorista do caminhão. Houve uma desinteligência qualquer, Laudemir foi defender a colega, levou um tiro no peito e morreu.
“Cristão, esposo, pai e patriota”

A esquerda, evidentemente, e como é de seu feitio, está fazendo a festa com o crime, ocorrido em Belo Horizonte (só mais um crime numa das cidades mais violentas do mundo). Afinal, o caso envolve luta de classes e o uso da arma de uma policial, esposa do suspeito. Forçando um pouco, e não sei como a esquerda ainda não fez isso, dá até para colocar o racismo no meio da história. Mas não é só por isso que a esquerda está fazendo a festa. Mais importante, para eles, é ressaltar que o suposto assassino se dizia “cristão, esposo, pai e patriota”.

Donde se conclui não que uma pessoa específica, o Renê Fulano de Tal, RG tal, CPF tal e tal, seja mau, violento, cruel – e despreze o bem mais precioso de Deus, a vida, só porque ela foi dada a um gari ou ele estava atrasado para o treino do dia. Não! Para a esquerda, o crime é prova de que todos os que exibem as palavras “esposo”, “pai” e principalmente “cristão” e “patriota” na bio são assassinos em potencial e hipócritas consumados.
Agente de limpeza urbana

A despeito desse uso ideológico de uma entre tantas tragédias cotidianas que nos passam despercebidas porque estamos distraídos com Alexandre de Moraes, Lula, Bolsonaro e o escambau, o crime suscita questões interessantes. O fato de o suspeito ter ido à academia depois de matar uma pessoa, por exemplo. Há aí nesse detalhe questões de banalidade, óbvio. Mas também questões de obsessão, de impunidade e até de vaidade a serem exploradas. Isto é, até que outra onda de escândalos políticos, jurídicos e diplomáticos nos faça reféns novamente.

E tem também a figura do gari. Ah, desculpe. Do agente de limpeza urbana, do profissional de conservação de vias públicas, do técnico de limpeza urbana. Melhor assim? O gari enquanto símbolo da miséria e da humilhação de coletar os rejeitos de seus semelhantes. Mas também e principalmente como símbolo da resiliência de uma vida marcada por uma pobreza nobre. De uma vida difícil, inegavelmente difícil, tornada digna por um trabalho estigmatizado, sem o qual a sociedade do luxo e do desperdício entra em colapso.
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