Falta empatia no gabinete alexandrino

Trecho do desabafo do juiz auxiliar Airton Vieira, que trabalhou para o ministro sancionado Alexandre de Moraes, é divulgado. (Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF)


"Não estou aguentando mais". Esse foi um trecho do desabafo do juiz auxiliar Airton Vieira, que trabalhou para o ministro sancionado Alexandre de Moraes, numa conversa com Eduardo Tagliaferro. O site Metrópoles divulgou a conversa, em que o juiz diz: "Olha, realmente a coisa está feia, viu? Eu não estou aguentando mais em termos físicos, psicológicos, emocionais. Eu não consigo dormir sossegado, eu não tenho tranquilidade, eu estou perdendo completamente a higidez mental, o pouco que eu ainda tinha, viu? Realmente a coisa está feia".

Vieira também disse que sua família estava sendo "extremamente prejudicada". O desabafo poderia ser pelos efeitos de suas ações, a mando de Moraes, nas vítimas inocentes do gabinete alexandrino, mas não é nada disso. Tanto que em outra troca de mensagens, presente na Vaza Toga 2, consta que Vieira comemorava as prisões desses inocentes!

Ou seja, o que o juiz está lamentando é que o nível de pressão imposto por Moraes se tornou insuportável, nada mais. O que ele exala nesta fala é uma preocupação consigo mesmo, nada mais. Ele quer sossego! Ele quer manter seu cargo sem ter de aturar as "cismas" de Moraes. Mas ele não demonstra, em momento algum, real empatia pelos alvos do ministro.

Desde o julgamento de Nuremberg, sabemos que não há desculpa para burocratas que repetem estar apenas cumprindo ordens. Se são cúmplices das ações criminosas de seus chefes, também têm culpa no cartório. Há sempre uma escolha a ser feita. No limite, vários funcionários nazistas optaram pela saída mais drástica — o suicídio — para não continuar mandando judeus inocentes para as câmaras de gás.

O que chamou a minha atenção, portanto, nos áudios divulgados — e que foi pouco comentado nas redes — foi justamente essa falta de empatia do juiz auxiliar. Ele parecia preocupado com a própria pele, com o emprego, com sua tranquilidade, mas não se vê uma só palavra sobre quem eles mandavam para a prisão sem qualquer crime cometido. E as famílias dessa gente toda? Não foram extremamente prejudicadas?

Não me comove o desconforto de quem seguia ordens de Moraes - e ainda celebrava as prisões de suas vítimas. Muito mais comovente é pensar em quem sofreu direta e indiretamente com as ações criminosas de Moraes e seus cúmplices em seu gabinete - o verdadeiro gabinete do ódio.


Por Rodrigo Constantino

Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC, trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros, entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal. **Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.
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