Esposa de Alexandre de Moraes tem grandes clientes apesar do currículo modesto

Esposa de Alexandre de Moraes tem grandes clientes apesar do currículo modesto

Viviane Barci, esposa de Alexandre de Moraes, foi sancionada pelos EUA. Na foto, o casal aparece ao lado do presidente Lula na posse, em 2023. (Foto: Ricardo Stuckert / Presidência da República)



Por Raphaela Ribas


No conceituado escritório Barci de Moraes, a maioria dos advogados é de mestres e doutores com graduação em universidade de renome, como Mackenzie, PUC e Universidade de São Paulo (USP). A exceção é justamente a sócia-gerente, cujo sobrenome batiza a firma.

Viviane Barci de Moraes formou-se em Direito na Universidade Paulista (Unip) quando tinha 30 anos. Antes, ela cursou Propaganda e Marketing na mesma instituição. O currículo profissional dela termina aí. Mas o currículo pessoal é único: ela é a mulher de Alexandre de Moraes.

Em São Paulo, onde nasceu e começou a trabalhar como advogada, Viviane tirou sua licença na OAB em 1999. No escritório (que era do marido), ela atua ao lado dos filhos Giuliana e Alexandre. A empresa atua em várias áreas do Direito, mas na biografia de Viviane não consta nenhuma especialização.

Segundo as informações do próprio site, depois da faculdade de Direito, Viviane não realizou curso algum — diferentemente de Alexandre, que é doutor e autor de diversos livros jurídicos.
Sanção e Influência

Assim como o marido, Viviane Barci de Moraes foi incluída pelo governo americano na lista de pessoas sancionadas pela Lei Magnitsky para punir financeiramente estrangeiros que violam direitos humanos.

O Departamento do Tesouro também impôs sanções ao Instituto de Estudos Jurídicos Lex, fundado por Moraes em 2000, do qual Viviane e os filhos do casal são sócios. O deputado Eduardo Bolsonaro afirmou que Viviane seria o braço financeiro do marido.

Por meio de nota, Alexandre de Moraes classificou a medida como “ilegal e lamentável”.

O Instituto é dono de onze imóveis da família, cujos valores declarados somam R$ 20 milhões, de acordo com o jornal O Globo. Viviane também comprou, através do Instituto Lex, uma mansão no Lago Sul, bairro nobre de Brasília, por R$ 12 milhões. Segundo o portal Metrópoles, a aquisição foi feita à vista, no mês passado.

Até 2016, o escritório da família, que fica no Itaim Bibi, bairro nobre de São Paulo, levava o nome Alexandre. Ao se tornar ministro da Justiça e, depois do STF, ele teve de deixar a atuação como advogado.

O currículo oficial no site da firma era longo. Tinha 35 linhas a mais que o de Viviane, e incluía feitos como professor, promotor e funcionário público, além de publicações e “diversas homenagens, comendas, medalhas e colares”.
A equipe de Viviane Barci

O currículo de Viviane pode ser modesto, mas o escritório é bem assessorado por outros advogados, parceiros de longa data de Moraes (pai). Além dela, a equipe tem seis jovens advogados e três mais experientes. A firma também conta com quatro juristas consultores.

Mágino Alves Barbosa Filho, por exemplo, trabalhou com Moraes em algumas ocasiões. O advogado foi braço direito do ministro em secretarias municipais e estaduais.

Moraes foi estagiário de Mágino no Ministério Público de São Paulo nos anos 1980. Depois, o advogado foi secretário-adjunto de Moraes na Secretaria Municipal de Transportes de SP e na Secretaria de Segurança Pública de SP. Quando Moraes assumiu o Ministério da Justiça (governo de Michel Temer), Mágino ficou no seu lugar no órgão de segurança.

Já Rogério Galloro foi diretor-geral da Polícia Federal e hoje é contratado como consultor do escritório de advocacia que pertence à família Moraes.

“Sempre atentos à dinâmica jurisprudencial, doutrinária e legislativa, demonstrado pela intensa atividade docente e produção científica, o escritório se preocupa com o permanente aprimoramento de seu corpo jurídico tendo forte atuação nacional no consultivo e no contencioso e junto aos Tribunais Superiores, ao Ministério Público e Tribunais de Contas”, diz o site da empresa.
Viviane herdou escritório do marido

Desde 2016, quando Moraes assumiu uma das cadeiras do STF, Viviane consta como advogada em 25 ações no Supremo. Como ministro, Alexandre de Moraes não pode atuar na firma que fundou, nem participar de ações que chegam à corte e que envolvam o seu antigo escritório. Quando isso acontece, ele é vetado de participar.

O escritório da família também atuou na defesa do ministro e para si mesma no caso em que ele e os filhos foram hostilizados em um aeroporto de Roma, em 2023.

Entre os processos em que Viviane e sua equipe atuam e que estão no STF, há ações de grandes clientes, como Qualicorp e Hapvida. A primeira é uma administradora de benefícios que anunciou a venda de toda a sua participação na Gama Saúde à holding ESB por R$ 163,9 milhões, recentemente. A segunda é uma das maiores operadoras de planos de saúde do país, avaliada em R$ 20,3 bilhões. 

Viviane também é advogada da Associação Fundo de Auxílio Mútuo dos Militares do Estado de São Paulo e atendeu Kátia Rabello, ex-presidente do Banco Rural. Rabello, condenada no escândalo do mensalão e o ex-prefeito de São Caetano do Sul José Auricchio Júnior (PSDB), cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2024.
Carona em jatinho da FAB

Viviane Barci de Moraes é uma figura discreta que não dá entrevista e pouco se sabe sobre ela e sua vida antes de se casar com Alexandre de Moraes. Mesmo sem falar, ela esteve no centro de duas polêmicas recentes (além da Magnitsky).

Uma foi ter pego carona em um avião da FAB que partiu de Brasília com destino a São Paulo, junto com ministros do governo Lula, em agosto do ano passado, sem precisar transitar nas áreas comuns de aeroportos, como ocorre em voos comerciais.

O outro foi se tornar advogada do Banco Master, que negocia a venda de parte de sua operação para o Banco de Brasília (o banco estatal do Distrito Federal), conforme noticiou a colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo.

O objetivo é a formação de um novo Conglomerado Prudencial, sob a liderança do BRB, com atuação nacional. O Banco de Brasília, porém, anunciou em fato relevante em agosto que o Banco Central rejeitou a operação de compra de 58% do capital social total do banco Master.

O Banco de Brasília é também patrocinador do Museu do STF, que está em reforma para ampliação. No relatório de auditoria de 2025, foi identificada uma inconsistência contábil de mais de R$ 56 milhões nas contas da corte em 2024, sendo que deste valor, R$ 50 milhões referem-se a um pagamento adiantado, feito sem registro de contrapartida, para as obras de expansão e adequação física e estrutura do Museu do STF.  

De acordo com o relatório, houve um erro na classificação da despesa. Mas, para além do problema contábil da saída dessa verba, existe uma questão sobre o seu destino, conforme reportagem publicada pela Gazeta do Povo.

Conforme dados do site da Transparência do Supremo, um pagamento de R$ 50 milhões foi realizado em 9 de dezembro de 2024 para a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (ONU/Unesco) para um “projeto de cooperação técnica internacional entre o órgão e o STF para o projeto intitulado Museu do STF”. 

Em resposta à Gazeta do Povo, o STF disse que “trata-se de um ajuste meramente contábil. A corte garante que a despesa “foi devidamente empenhada, paga e registrada conforme a legislação e as normas contábeis aplicáveis”.

A reportagem não conseguiu contactar Viviane Barci de Moraes.
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