Em defesa do irmão da Sandy

Em defesa do irmão da Sandy

Junior Lima, o irmão da Sandy: "Discordo do que você diz, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-lo". (Foto: Reprodução/Twitter/@Junior_Lima)


Por Paulo Polzonoff Jr.



O irmão da Sandy, Durval de Lima Junior, ou Junior Lima, ou apenas Jr., encerrou a música com um lálálá qualquer. As luzes se apagaram e foi assim, no escuro, que ele tirou coragem sabe-se lá de onde para engrossar a voz e gritar: “Anistia é o retalho, masmorra!” O público de um festival reagiu com um uhuuuu meio chocho, que não merece nem ponto de exclamação. Vida que segue. A crônica acaba aqui.

Ah, não pode? Tudo bem. Então vamos lá. Por causa dessa manifestação política aí, Junior Lima está sendo tratado como um zero à esquerda (claro que é à esquerda), um inútil segunda voz. Um mero “irmão da Sandy” que (e eu realmente li isso na concorrência) teria atacado a anistia aos presos do 8 de janeiro. Sim, atacado. E que por isso merece ser hostilizado, silenciado, perder o visto de entrada nos EUA e até ter sua sexualidade questionada.
Anistia já!

Ao ver essas manifestações todas, fiquei só imaginando o que teria acontecido se, em vez de “Anistia é o orvalho, gangorra!”, Durval tivesse gritado “Liberdade para Bolsonaro!” ou “Anistia já!”. Hein? Hein? Algo me diz que ele estaria sendo tratado igualzinho, mas ao contrário. Estaria sendo chamado de extremista e fascista, e teria seu talento musical questionado. Os jornais alinhados ao regime diriam que Jr. atacou a democracia e o STF. É bem possível que Alexandre de Moraes o incluísse num inquérito novinho em folha, criado especialmente para investigar manifestações de apoio à anistia.

Aí me lembrei de uma frase que adornava as agendas das meninas da minha época, e que dizia “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Te tornas? Tem certeza? Um dia ainda quero escrever sobre isso, mas não hoje. Na verdade a frase de que me lembrei foi outra, uma frase atribuída a Voltaire, mas que não é dele, e que dizia algo como: “Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”.
Posso não concordar...

Meu amigo, como essa frase circulou! Na verdade, era um saco. Em toda discussão havia alguém querendo bancar o inteligente e disposto a vir com essa ladainha do “posso não concordar...”. Até que aconteceu com a frase o que acontece a todos os aforismos que viram clichês: ela perdeu a força argumentativa e se transformou num amontoado de palavras sem nenhum sentido real. “Defenderei até a morte”? Tem certeza? Sei.

No entanto, talvez seja hora de ressuscitar a frase de Voltaire e que não é de Voltaire. De torná-la popular novamente. Por isso vou recorrer justamente a ela para defender o direito de Jr. (não é parente!) de se manifestar contra a anistia. Por que não?! Sei lá. Vai ver ele chegou a uma conclusão diferente da minha e da sua. Talvez até acreditando em alguma mentira oficial. É bem possível que, cercado pela exquerda artchy, ele não tenha coragem de ir contra o que dizem seus pares. Vai saber! Ou vai ver o irmão da Sandy realmente acredita que uma pessoa que escreveu “Perdeu, mané” numa estátua merece uma pena de 17 anos de prisão. Sei que é difícil de aceitar, mas... direito dele!
Groselha e brainstorm

Seja lá qual for a groselha que embasa seu posicionamento político quanto à possibilidade de anistia aos presos do 8 de janeiro, o fato é que Junior Lima tem todo o direito de falar o que eu e você consideramos uma bobagem. O que eu e você não queremos ouvir. Inclusive usando palavrão e num tom de indignação que, se você reparar bem, é todo pensadinho para render engajamento nas redes sociais e textos como este que você está lendo.

Não importa se o Durval Jr. está sendo sincero ou se a opinião dele é produto do shitstorm de uma equipe de marketing. Junior Lima tem o direito de se opor à anistia. Assim como eu tenho o direito de tentar mostrar que ele está errado (Jr., me liga!). E agora você, olha só!, tem todo o direito de ignorar tudo o que escrevi até aqui e, munido apenas de uma má vontade e revolta legítimas, usar a caixa de comentários para me xingar disso e daquilo. Corre lá!

Enquanto isso, encerro dizendo que a essa coisa toda de se manifestar contra ou a favor da anistia aos presos do 8 de janeiro se dá o nome de liberdade. A mesma liberdade que usarei para botar um ponto final nesta crônica. Agora mesmo.
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