Editorial - Estados Unidos ajudam a recordar a verdade sobre o Mais Médicos

Médicos cubanos retornando para Havana, após a vitória de Jair Bolsonaro na eleição de 2018. (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

Porto Velho, RO - Depois de ter punido Alexandre de Moraes e outros ministros do STF, nesta quarta-feira o governo norte-americano cancelou vistos de mais dois brasileiros, desta vez em um pacote que atingiu também cubanos e cidadãos de outras nações; todos eles têm em comum o fato de terem participado de programas de envio de médicos de Cuba para outros países – no caso brasileiro, trata-se do Mais Médicos, criado por Dilma Rousseff em 2013 e que tinha como espinha dorsal a “importação” de profissionais vindos da ilha comandada com mão de ferro pela ditadura comunista dos irmãos Castro. Foram sancionados Mozart Júlio Tabosa Sales, que no governo Dilma era chefe de gabinete e secretário nacional de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde, e hoje é secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde; e Alberto Kleiman, diretor do Departamento de Relações Internacionais do Ministério da Saúde na gestão Dilma e, até dezembro do ano passado, coordenador-geral do governo Lula para a COP-30.

O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, descreveu o Mais Médicos brasileiro como um “golpe diplomático inconcebível de ‘missões médicas’ estrangeiras”, e não poderia ter sido mais certeiro na descrição. Usando um pretexto real – a falta de médicos em várias regiões brasileiras e nas áreas pobres de grandes cidades –, o governo Dilma desenhou, em conluio com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e a ditadura cubana, uma forma de financiar o regime comunista da ilha caribenha por meio da exploração do trabalho de profissionais da área médica. Recordar o que foi e como funcionou o Mais Médicos é o melhor antídoto contra as alegações de “perseguição” feitas por Alexandre Padilha, atual ministro da Saúde e titular da pasta na época em que o programa foi criado.

O governo Dilma desenhou, em conluio com a Opas e a ditadura cubana, uma forma de financiar o regime comunista por meio da exploração do trabalho de profissionais da área médica


O governo alegava que o Mais Médicos estava aberto a qualquer estrangeiro, mas 80% dos médicos que vieram de outros países eram cubanos, submetidos a um regime bastante diferente de seus colegas de outras nacionalidades. Enquanto estes últimos recebiam integralmente o salário acertado com o governo brasileiro, os cubanos eram vítimas de uma triangulação perversa: a Opas recebia os salários, entregava apenas uma parte (de 10% a 30%) ao médico que estava no Brasil, ficava com uma pequena comissão pelos serviços administrativos, e enviava o restante do dinheiro a Cuba, onde a família do médico recebia uma pequena parcela e o resto ia parar nos cofres da ditadura. Vergonhosamente, em 2017 o Supremo Tribunal Federal validou esse arranjo, que violava flagrantemente a lei trabalhista brasileira, aceitando o argumento do governo de que os valores não constituíam salário, mas uma bolsa. O governo Dilma manteve muitos desses detalhes escondidos, e eles só foram conhecidos pelos brasileiros graças a médicos cubanos valentes, que fugiram da severa vigilância dos agentes dos Castro e expuseram a exploração a que eram submetidos.

As provas definitivas de que o Mais Médicos não passava de um truque para financiar o governo cubano vieram em 2015, quando a emissora de televisão Band teve acesso a áudios de uma reunião com assessores de vários ministérios, na qual uma participante afirmou que o objetivo de trazer alguns poucos médicos de outros países era esconder o fato de que o Mais Médicos era, sim, um acerto entre Brasil e Cuba. E, em 2018, o jornal Folha de S.Paulo teve acesso a telegramas da embaixada brasileira em Havana, mostrando que a própria ideia do Mais Médicos havia sido dos cubanos, e não dos brasileiros. A ditadura havia até mesmo criado uma Sociedade Mercantil Cubana Comercializadora de Serviços Médicos Cubanos, que veio ao Brasil em 2012 para mapear as áreas mais carentes de profissionais. Por fim, o próprio governo cubano confirmou suas intenções quando, após a vitória de Jair Bolsonaro, em 2018, chamou de volta todos os médicos – apesar de o então presidente eleito ter oferecido a possibilidade de eles permanecerem no Brasil, passando pelo Revalida, o teste que todos os formados em Medicina no exterior precisam fazer para trabalhar no país, e que Dilma havia dispensado no caso dos cubanos.

Que esses profissionais tiveram um efeito significativo nas comunidades em que atuaram é evidente: eles foram a lugares aonde os profissionais brasileiros não se dispõem a ir, independentemente dos seus motivos. Mas isso se deu por meios torpes: a exploração de trabalhadores que não tinham escolha a não ser integrar o programa, recebendo uma parcela pequena do dinheiro que lhes era devido, e estando submetidos a uma severa vigilância que lhes privava de todas as liberdades. Era totalmente possível cumprir o objetivo alegado, o de proporcionar atendimento médico a brasileiros de regiões carentes, sem recorrer a esse tipo de negociata com a ditadura cubana; mas era exatamente esse o objetivo real do Mais Médicos, como os Estados Unidos acabam de nos recordar.

Fonte: Por Gazeta do Povo
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