Brasil de Lula e Moraes é o adversário ideal de Trump. E o jogo está longe de acabar

Lula e Moraes: Trump aplicou ao Brasil tarifaço bem maior que o imposto à Venezuela de Maduro e à Nicarágua de Ortega. (Foto: Joédson Alves/Agência Brasil)

Porto Velho, RO - Um governo de esquerda, um Judiciário que condena a direita, um país grande o suficiente para servir de exemplo mas sem condições de revidar à altura: o Brasil de Lula e Alexandre de Moraes é o adversário ideal de Donald Trump. Não tem manilha para vencer o truco do tarifaço, e perderá mais feio se levantar para seis, como insinuou o presidente brasileiro.

Condenada à maior das tarifas, nossa economia depende muito mais da norte-americana que o contrário. Cerca de 12% do que o Brasil exporta vai para os EUA e 15% do que importa vem de lá. Por outro lado, nossa fatia nas compras e vendas dos EUA fica entre 1% e 2%, apenas. Eles investem muito mais aqui do que nós lá. Suas empresas controlam grande parte da infraestrutura digital que usamos o tempo todo. E por aí vai.

O Brasil não é uma China, que pôde escalar a guerra tarifária de Trump até que ambos concordassem em conversar. Tampouco tem o poder de uma União Europeia, que precisou entregar os anéis e se resignar com uma tarifa de 15%.

Resta tentar evitar o pior com diplomacia, sangue frio e paciência. E também com a articulação de empresários, principais interessados em um armistício – a ela se deve ao menos parte da surpreendente lista de exceções ao tarifaço de 50%.

Gritar e bater na mesa pode agradar a certa plateia, mas não ajuda a aliviar as tarifas. Ao contrário: manifestações do tipo tendem a dar pretexto ao presidente norte-americano.

Trump usa força bruta porque pode e como quer. Parece não ter gostado de zombarias de Lula, de suas brincadeiras no parquinho ideológico da esquerda, de conversas dos Brics, de busca de alternativas ao dólar. Pode estar zangado até com o Pix: vai que outros países o copiam e de alguma forma isso comece a afetar empresas dos EUA ou, lá adiante, arranhar o "privilégio exorbitante" conferido pela moeda norte-americana?

E há, claro, a razão oficial do tarifaço: Trump afirma que o governo brasileiro motiva "perseguição, intimidação, assédio, censura e processos" contra o ex-presidente Jair Bolsonaro – um de seus grandes admiradores, mencionado cinco vezes no decreto da Casa Branca – e "milhares de seus apoiadores", e que viola direitos de pessoas e empresas dos EUA.

Ele próprio acossado pela Justiça até há pouco, Trump brada que "não passarão". Enquadrou Moraes na Lei Magnitsky, mas também aproveitou para atropelar a economia brasileira, que caminhava pela calçada tentando não chamar atenção. Violência gratuita é boa para intimidar.

Claro que há o protecionismo brasileiro, o uso político que Lula fez e fará da crise, as bravatas antiamericanas, o pouco empenho em negociar, os processos contra opositores. Mesmo pondo tudo na balança, a bordoada de 50% ganha contornos de sadismo quando comparada às alíquotas de 15% e 18% com que o republicano agraciou a Venezuela de Maduro e a Nicarágua de Ortega, ditaduras de esquerda com todas as credenciais, antiamericanas até a medula.

Mais que política, a questão é pessoal. Sabe-se lá o que virá se Moraes condenar Bolsonaro ou Lula não se prestar a uma humilhação à la Zelensky.

Para azar da economia brasileira, o jogo está longe do fim. Ainda há um punhado de sanções que os Estados Unidos podem vir a aplicar – e Trump se diverte contando essa vantagem, tirando proveito da fama de imprevisível.

Fonte: Por Fernando Jasper
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