4 pontos para entender o “passo atrás” de Moro na disputa presidencial

4 pontos para entender o “passo atrás” de Moro na disputa presidencial

O ex-juiz Sergio Moro, na última sexta, quando anunciou que não desistiria da candidatura à Presidência| Foto: União Brasil

Porto Velho, RO
- Desde que o ex-ministro Sergio Moro anunciou que deixaria, provisoriamente, a corrida presidencial, intensificaram-se as articulações entre os partidos do chamado “centro democrático” para lançar um nome competitivo em seu lugar como alternativa da “terceira via”. União Brasil, MDB, PSDB e Cidadania rejeitam apoiar a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) e a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e prometem anunciar um nome de consenso no dia 18 de maio.

As negociações, contudo, ainda esbarram em dificuldades, sobretudo porque nenhum dos outros pré-candidatos – Simone Tebet (MDB), Eduardo Leite (PSDB) e João Doria (PSDB) – ainda conseguiu demonstrar força para herdar os votos do ex-juiz. Além disso, cada um deles, assim como Moro, também enfrenta resistências internas em seus respectivos partidos.

O primeiro sinal contrário a um nome alternativo ao de Moro veio da pesquisa do Ipespe divulgada na última quarta-feira (6). O levantamento mostrou que, num cenário sem o ex-juiz, Bolsonaro sobe quatro pontos percentuais, chegando a 30% das intenções de voto, em comparação com a pesquisa feita pelo instituto duas semanas antes. “A saída de Moro foi o maior presente, até o momento, à pré-campanha de Bolsonaro”, disse o diretor do Ipespe, Antônio Lavareda.

Também em razão disso, os apoiadores de Moro dentro do União Brasil – que tem como expoentes o presidente do partido, Luciano Bivar (PE), e o deputado federal Junior Bozzella (SP) – acreditam que ainda há tempo de convencer a maioria dos dirigentes de que ele pode, afinal, ser o nome mais viável e unificador contra Bolsonaro e Lula.

Nesta semana, após os atritos públicos com a ala do União que o rejeita – liderada pelo ex-prefeito de Salvador ACM Neto e composta por caciques do antigo DEM –, Moro resolveu sair dos holofotes e se concentrar em obter apoio nos bastidores, inclusive junto aos demais partidos.

Na terça (5), esteve em Brasília para encontros reservados – antes, na sexta (1) e no sábado (2), teve conversas pessoais com Tebet e Leite. Na quarta (6), viajou para os Estados Unidos para uma série de compromissos com autoridades, inclusive com o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro.

Nesta sexta-feira (8), em entrevista ao Atlantic Council, centro de pesquisas baseado em Washington, Moro disse que "segue disponível" para ser o candidato à Presidência, o que, segundo ele, depende do presidente do partido, Luciano Bivar.

"Eu disse desde o começo que nunca desistiria da eleição presidencial. Isso [migrar de partido] foi apenas dar um passo atrás, que eu senti ser necessário para ter a possibilidade de vencer", disse, acrescentando que precisa "de um partido mais forte para vencer a polarização".

"Ainda estou no jogo. Entendo a necessidade de ter candidatos únicos ao centro. A questão principal é: os partidos de centro realmente querem ter candidatos competitivos para competir contra os extremos", disse.

Um dos últimos compromissos de Moro, no fim de semana, será a participação no Brazil Conference, evento de debates promovido por alunos brasileiros da Universidade de Harvard, onde será sabatinado, no sábado (9).

Moro retorna ao Brasil na segunda-feira (11), quando visitará cidades no Rio Grande do Sul – Porto Alegre, Canoas e Caxias – para encontros com lideranças locais. Depois, dará entrevistas à imprensa.

Relembre, abaixo, uma síntese dos motivos que levaram Moro a sair da corrida e as primeiras consequências da desistência.

1. Falta de verba, apoio interno e estrutura

Um dos motivos cruciais para a saída de Sergio Moro do Podemos, que havia se comprometido a levar sua candidatura presidencial até o fim, foi a falta de verbas e estrutura para uma campanha nacional. Aliados do ex-ministro ressentiam-se também da falta de apoio interno, uma vez que parte da bancada de deputados federais do partido reivindicava uma fatia maior do fundo eleitoral para priorizar suas próprias reeleições.

A avaliação é que a campanha de Moro sugaria a maior parte dos recursos – estima-se que o Podemos terá cerca de R$ 190 milhões neste ano para todos os seus candidatos. Neste ano, mesmo após a filiação do ex-juiz, o partido viu diminuir seu tamanho na Câmara.

Se antes da janela partidária – período de um mês, durante março, em que a troca de legendas é liberada – o Podemos tinha 11 deputados federais, ao final, ficou com nove – quatro deputados deixaram a legenda e dois ingressaram. No primeiro grupo, havia deputados que apoiam Bolsonaro – como José Medeiros (MT), que foi para o PL; e Diego Garcia (PR), que migrou para o Republicanos – quanto apoiadores de Lula – caso de Bacelar (BA), que mudou para o PV.

Interlocutores de Moro dizem que pesou para a saída do partido um boicote que a própria direção partidária começou a fazer em relação à sua campanha. Insatisfeitos com a paralisação dele nas pesquisas de intenção de voto, alguns dirigentes passaram a ficar cada vez mais descrentes com a possibilidade de vitória na corrida presidencial e avaliaram que gastar recursos numa campanha nacional seria desperdiçar recursos.

Também não ficou evidente o potencial de Moro puxar votos para aumentar a bancada de deputados federais – é esse número que define o quanto o partido terá de recursos públicos para sobreviver. O plano do partido é aumentar sua bancada federal.

A mesma estagnação nas pesquisas foi apontada, internamente, como motivo do desinteresse de outros partidos firmarem alianças ou mesmo uma federação. O Cidadania, por exemplo, que cogitou inicialmente juntar-se ao Podemos, acabou optando por uma federação com o PSDB.

2. Pressão contrária do novo partido

A expectativa de Moro de que, no União Brasil, sua pré-candidatura ganharia mais força não durou um dia. No mesmo 31 de março, data da filiação, a ala oriunda do DEM reiterou que ele seria bem-vindo para “construir uma candidatura em São Paulo pela legenda”.

A nota foi assinada por antigos caciques do partido, com poder em estados do Nordeste que seriam cruciais para uma candidatura presidencial competitiva, uma vez que, segundo as pesquisas, Lula atualmente tem ampla vantagem na região.

Subscreveram o repúdio a uma candidatura de Moro à Presidência o prefeito de Salvador, ACM Neto, herdeiro da família mais tradicional da política na Bahia; o deputado federal Efraim Filho, que tem grande influência sobre prefeitos na Paraíba; o ex-senador José Agripino Maia, chefe de um clã no Rio Grande do Norte; além de Mendonça Filho, ex-ministro com projeção sobre a política de Pernambuco. Também assinaram a nota o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, mais próximo de Bolsonaro; o senador Davi Alcolumbre, do Amapá, e um dos maiores críticos da Lava Jato no Congresso.

O interesse maior é que ele se candidate a deputado federal, o que serviria para puxar votos e eleger outros candidatos à Câmara no estado. A declaração de Moro, no dia seguinte, descartando essa hipótese e de que não desistiria da pretensão presidencial, só piorou sua situação internamente. A mesma ala do DEM passou a ameaçar impugnar sua filiação.

A tensão interna só arrefeceu depois que Luciano Bivar, presidente do União e que comanda a ala proveniente do PSL – partiu dele a promessa a Moro de apoio à sua candidatura presidencial, na expectativa de que ele, Bivar, poderia ser candidato a vice-presidente – assinou uma nota conjunta com ACM Neto declarando que a filiação de Moro “tem como objetivo a construção de um projeto político-partidário no estado de São Paulo”.

Um plano B e que ainda não foi descartado por Moro é uma candidatura ao Senado. Mas ele mesmo considera que enfrentará uma competição difícil, que, para apenas uma vaga, têm como pré-candidatos o apresentador José Luiz Datena (PSC), a deputada estadual Janaina Paschoal (PRTB) e, talvez, o ex-governador Márcio França (PSB) – se ele desistir de sua pré-candidatura ao governo de São Paulo.

Outra fonte de aborrecimento veio de fora: petistas começaram a questionar a mudança de seu domicílio eleitoral para São Paulo. Filiada ao partido, a empresária Roberta Luchsinger acionou o Ministério Público Federal para investigar o caso, alegando que Moro não tem qualquer ligação com o estado.

A defesa do ex-juiz está convicta de que a nova filiação, já aprovada pela Justiça Eleitoral, será mantida com base na jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que admite, para a mudança de domicílio, a demonstração de “vínculos políticos, econômicos, sociais e familiares”, sem necessidade de fixar residência no local – Moro mora em Curitiba e aluga um flat na zona sul da capital paulista.

3. Saída do Podemos provoca críticas e desistências

Ainda que parte do Podemos já quisesse abandonar Moro, sua saída repentina do partido deixou outra ala, que lhe era favorável, frustrada. O maior representante desse grupo é o senador Alvaro Dias (PR), que abriu as portas da legenda para o ex-juiz.

Em entrevistas recentes, ele tem dito que seria possível manter a candidatura presidencial de Moro no Podemos e que sua migração para o União Brasil acabou se revelando uma má escolha.

“A tentativa de fugir do isolamento o leva ao União Brasil, que o prende, e ele não será candidato a presidente, o partido já anunciou isso. Portanto, o sonho foi sepultado. A movimentação feita nos últimos dias, com essa mudança partidária, me parece ter sido um tiro no pé”, disse Alvaro à rádio Jovem Pan.

A saída de Moro também acabou prejudicando outros pré-candidatos que se filiaram à legenda por sua influência. Foi o caso do general Santos Cruz, que desistiu de disputar uma cadeira na Câmara pelo Distrito Federal, e também da professora Catarina Rochamonte, que teve a pré-candidatura a deputada federal vetada pelo diretório do Podemos no Rio Grande do Norte.

O único forte apoiador de Moro que se manteve no Podemos e ainda está com a pré-candidatura de pé é o ex-procurador Deltan Dallagnol.

4. Nomes do "centro democrático" se rearticulam

A resistência do União Brasil em lançar Moro como pré-candidato à Presidência deu fôlego para outros pré-candidatos da chamada “terceira via” ou do “centro democrático”, que querem se cacifar à Presidência. Daí a intensificação das conversas, nos últimos dias, em torno da senadora Simone Tebet e do ex-governador Eduardo Leite.

O problema dos dois é mesmo pelo qual passou Moro: não contar com consenso e apoio maciço de seus respectivos partidos para lançá-los a presidente na disputa eleitoral. Boa parte do MDB, especialmente dos velhos caciques do Nordeste – como Renan Calheiros –, prefere apoiar Lula.

Leite tem força no PSDB, mas o partido ficou preso ao resultado das prévias internas do ano passado que escolheu João Doria como candidato ao Planalto. Ele garantiu o apoio do presidente da sigla Bruno Araújo depois de, em um blefe, ameaçar abandonar a pré-candidatura e permanecer no governo paulista, o que frustraria a articulação do seu vice, Rodrigo Garcia, para assumir a gestão do estado e concorrer com força à reeleição.

Contra todos eles, ainda pesa a pretensão de cada um de encabeçar a chapa, sem que o outro abra mão. É o caso também de Ciro Gomes (PDT), que já sinalizou, por meio de intermediários, abertura para conversar com os demais, sobretudo após a saída de Moro, um desafeto, mas também sem admitir a possibilidade de ceder o lugar a outro pré-candidato.

Nesta quarta, numa reunião entre os presidentes do União, Luciano Bivar; do MDB, Baleia Rossi; do Cidadania, Roberto Freire; e do PSDB, Bruno Araújo; os partidos anunciaram o plano de apresentar, em 18 de maio, o nome de um candidato único. O União deverá divulgar seu escolhido em 14 de abril, para testar se ele terá apoio dos demais. Pode ser a última chance de Moro, mas, para isso, ele ainda terá de conquistar apoio interno no partido.

Metodologia da pesquisa citada

A pesquisa Ipespe citada nesta reportagem foi realizada entre os dias 2 e 5 de abril de 2022, a pedido da XP Investimentos. A amostra é de mil eleitores brasileiros, a margem de erro é de 3,2 pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%. O levantamento está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-03874/2022.

Fonte: Por Renan Ramalho
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