
Porto Velho, RO- Quando ocorre a redução do preço de um bem, um serviço ou um ativo qualquer, a sensação psicológica geral é de que se trata de um fato positivo para a economia nacional. Essa percepção da sociedade atinge especialmente dois preços que têm forte influência sobre o futuro da economia e as possibilidades de crescimento: trata-se da taxa de juros (que é o preço cobrado por dinheiro emprestado) e da taxa de câmbio (que é o preço da moeda estrangeira em termos da moeda nacional). Normalmente, a redução nesses dois preços ocorre quando a economia do país vai bem, os fundamentos econômicos são sólidos e, portanto, com menor expectativa de riscos; logo, a percepção de que tal redução seja sempre positiva parece lógica.
A taxa de juros e taxa de câmbio são dois dos principais indicadores de curto prazo sobre o estado geral da economia nacional e refletem, inclusive, o progresso ou atraso na produtividade econômica (produção por hora trabalhada no país). No caso específico da taxa de câmbio, sempre que ela está baixa, principalmente em relação à moeda padrão internacional, o dólar, e sobretudo quando há movimentos firmes e sequenciais de queda no preço da moeda estrangeira, cria-se um clima nacional de que a economia do país está indo bem e que os fundamentos macroeconômicos são saudáveis. Na prática, com o preço do dólar mais baixo, as importações feitas pelo país se tornam mais baratas na moeda nacional, o que aumenta o poder de compra dos agentes econômicos internos em seus negócios com o resto do mundo e contribui para impedir eventual subida da inflação.
Um grande problema para exportadores, importadores e operadores de financiamento das relações econômicas de um país com o resto do mundo é a instabilidade da taxa de câmbio
Porém, se por um lado há vários benefícios ao país quando o preço da moeda estrangeira está baixo, existe um outro lado da equação, representado pelos efeitos sobre as exportações. Os exportadores de um país são agentes produtivos nacionais que operam e têm seus custos expressos na moeda nacional; logo, a viabilidade de seus negócios depende de que as receitas com as vendas de seus produtos sejam superiores aos custos, tudo medido na moeda nacional de forma a restar um lucro sem o qual a atividade não sobrevive nem prospera. Ocorre que os exportadores vendem seus produtos no mercado internacional aos preços cotados em dólar, e seus resultados dependem de quanto dinheiro eles obtêm na moeda nacional com a venda dos dólares obtidos em suas transações no exterior.
Dito de outra forma, a viabilidade dos negócios do exportador está vinculada a suas receitas na moeda nacional, cujo valor total resulta da venda dos dólares obtidos nas exportações segundo a taxa de câmbio. Dessa forma, o exportador nacional está na posição oposta ao importador nacional: quanto mais baixo o preço do dólar, menor é a receita obtida pelo exportador na troca de seus dólares pela moeda nacional.
Somente esse aspecto, que está longe de comportar toda a complexidade monetária das operações de um país com o resto do mundo, é suficiente para demonstrar que um grande problema para exportadores, importadores e operadores de financiamento das relações econômicas de um país com o resto do mundo é a instabilidade da taxa de câmbio. Em um país no qual a taxa de câmbio oscila o tempo todo, afetada por eventos econômicos e outros de natureza política e de relações internacionais, a capacidade de previsão dos agentes de comércio exterior fica reduzida e torna difícil o fechamento de contratos futuros mesmo naqueles setores em que o país não tem a opção de não exportar e importar, como é o caso dos setores da cadeia do agronegócio. Na economia, a incerteza e o risco são dois componentes inerentes à própria atividade. Porém, quando a incerteza se agrava e reduz substancialmente a capacidade de previsão, os efeitos desestimulantes sobre os negócios do país vinculados ao comércio exterior aumentam, provocam redução dos investimentos no setor e freiam o crescimento da economia nacional.
Em larga medida, isso é o que ocorre com o Brasil, pois o país dispõe de enormes possibilidades de crescimento do setor exportador em todos os seus segmentos, mas os efeitos inibitórios derivados da dificuldade de fazer previsão quanto ao comportamento da taxa de câmbio age como freio sobre decisões dos agentes econômicos nacionais. Nesse sentido, a instabilidade política, a fragilidade do sistema democrático e a eterna tensão decorrente da anormalidade política e jurídica são elementos que têm influência direta e constante sobre o desempenho da economia.
Todo futuro é incerto, mas as crises políticas e institucionais têm o condão de fazer a sociedade e o mundo dos negócios acreditarem que a crise continuará e seguirá produzindo seus efeitos sobre as decisões econômicas, especialmente decisões de investimento, financiamento e expansão de negócios. Assim, toda crise política é por definição uma crise econômica. Para um país pobre, que precisa crescer para diminuir sua pobreza, as crises políticas constituem uma ferida que emperra a máquina econômica nacional e retarda a retomada do progresso.
Fonte: Gazeta do Povo