
Porto Velho, RO - A Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, uma das instituições mais tradicionais do país, tornou-se palco de episódios que atentam contra os fundamentos da liberdade de expressão e do debate acadêmico. O mais recente deles ocorreu nesta semana, com a expulsão de três convidados que falariam sobre a atuação do Supremo Tribunal Federal a estudantes da universidade. O episódio evidencia, de maneira inegável, como o ativismo militante tem corroído o espaço universitário, transformando o que deveria ser um bastião do pensamento livre em território de hostilidade e intimidação.
Participariam do evento o advogado Jeffrey Chiquini, que representa Filipe Martins, e os vereadores Guilherme Kilter e Rodrigo Marcial, ambos do partido Novo. Assim que chegaram à universidade, no centro da capital paranaense, foram hostilizados por estudantes e ativistas, que, aos gritos de “recua, fascista”, empurraram e agrediram os convidados e pessoas que os acompanhavam. Para escapar da violência, o grupo precisou ser isolado em uma sala de professores e, posteriormente, evacuado com o apoio da Polícia Militar. O evento foi cancelado, deixando claro que grupos militantes podem impor suas agendas por meio da intimidação.
Seja por ações arbitrárias de instituições ou pela militância organizada movida pelo ódio, jamais a força pode substituir o argumento, nem a intimidação suplantar o diálogo
É absolutamente inadmissível que atos dessa natureza ocorram dentro de uma universidade. O espaço acadêmico deve ser o local de confronto de ideias, inclusive das mais controversas. Impedir o debate, seja por gritaria, intimidação ou agressão, representa uma afronta direta aos princípios democráticos e à missão educativa da instituição. A UFPR, que se proclama plural e comprometida com o Estado Democrático de Direito, precisa traduzir esse compromisso em ações concretas, garantindo segurança e direito de fala a todos os participantes.
As universidades, como pilares do conhecimento e do debate, têm a responsabilidade indelegável de proteger o contraditório e garantir um ambiente seguro para o diálogo. Mas a reação institucional à expulsão de Chiquini, Kilter e Marcial, que deveria ter sido uma defesa enérgica da liberdade de expressão e da pluralidade de ideias, foi pífia. Embora a Reitoria da UFPR tenha alegado alertar sobre “riscos à integridade física”, não houve mobilização prévia de segurança. Posteriormente, a atuação da polícia foi criticada, em vez de a universidade repudiar de forma inequívoca a violência sofrida pelos palestrantes. Essa postura ambígua sugere, infelizmente, uma tolerância tácita à intimidação e ao fechamento do espaço de debate.
E não se trata de um caso isolado. Em novembro de 2023, a UFPR cancelou uma palestra de Deltan Dallagnol após pressão estudantil, celebrada pelo Diretório Central dos Estudantes como vitória. Esse padrão recorrente evidencia que a intolerância política vem corroendo o debate saudável de ideias, transformando a universidade em palco de militâncias movidas pelo ódio, que, incapazes de debater civilizadamente, apelam para violência e tentativa de calar ou suprimir o oponente.
O cerne da questão é inegociável: não pode existir democracia quando vozes discordantes são silenciadas – e é exatamente isso o que temos visto acontecer com frequência, não apenas nas universidades. Seja por ações arbitrárias de instituições ou pela militância organizada movida pelo ódio, jamais a força pode substituir o argumento, nem a intimidação suplantar o diálogo. Sem debate livre e contraditório, a pluralidade de pensamento, pedra angular da democracia, se dissolve, e o espaço público, inclusive o universitário, encolhe diante da coerção.
Mais do que um chamado à defesa da liberdade acadêmica, os episódios na UFPR revelam um desafio civilizatório: a capacidade de uma sociedade lidar com o dissenso sem recorrer à força ou à intimidação. A universidade não pode permitir que o medo substitua a razão, contribuindo para o acirramento de uma cultura política marcada pela intolerância e pela polarização. Proteger o debate e acolher o contraditório dentro das universidades não é apenas uma questão institucional, mas um exercício de maturidade democrática.
Fonte: Por Gazeta do Povo