
Porto Velho, RO - No domingo Jair Bolsonaro já estava em prisão domiciliar de fato, porque ele é proibido de sair de casa aos fins de semana. Aí seu filho Flávio, senador, que estava no palanque em uma Copacabana lotada, ligou para o pai, pedindo uma mensagem. Jair gravou a mensagem, e publicaram fotos dele de bermuda, em casa, mostrando a tornozeleira. A reação veio no fim da tarde de segunda-feira, com Alexandre de Moraes decretando prisão domiciliar. Jair Bolsonaro não pode mais sair de casa; está preso em casa, embora não tenha sido condenado.
Não sei se, no momento em que vocês estão me ouvindo ou lendo, já houve alguma reação de Washington, mas o Departamento do Tesouro, que aplica a Lei Magnitsky, já havia avisado que não ficaria apenas em Moraes. Ou seja, Moraes pode estar arrastando consigo mais ministros do Supremo, o que pode ser uma tremenda inconveniência para os que estão mais próximos dele, como Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso, que fizeram os discursos na reabertura dos trabalhos do Supremo. Muitos colocam Flávio Dino também nesta lista.
E Moraes também está arrastando consigo Lula, porque neste terceiro mandato eu nunca vi tanto grito contra Lula quanto no domingo. Em primeiro lugar, o grito é contra Moraes, mas trouxe Lula a reboque. Ou seja, o Supremo que tirou Lula da prisão e o botou na Presidência, como lembrou Gilmar Mendes outro dia, agora pode estar ajudando um movimento de impeachment de Lula, como se ouviu nas ruas.
Magnitsky desemperrou a roda dos sorteios de relatoria no STF
E vocês notaram que a Lei Magnitsky parece ter lubrificado a roda emperrada do sorteio de relatores? Antes, só dava Moraes. Agora, o caso de Daniel Silveira caiu para Luiz Fux. O relator de um pedido de Lindbergh Farias para mandar os bancos brasileiros manterem as contas de Moraes (o que é uma maluquice) é Cristiano Zanin. Até esse momento, não vi nenhuma decisão nesta segunda ação, mas o ministro está em uma sinuca de bico: se Zanin mandar os bancos manterem abertas as contas de Moraes, os bancos fecham, porque não têm como funcionar se desobedecerem à Lei Magnitsky; mas, se disser que não pode atender o pedido e que os bancos têm de obedecer à Magnitsky, o colega não vai gostar.
Mais uma canetada de Toffoli para acabar com o combate à corrupção
O ministro Dias Toffoli, com uma liminar, suspendeu uma ação de improbidade administrativa contra o senador Jaques Wagner que corria na Justiça Federal na Bahia, a respeito das obras do estádio para a Copa do Mundo de 2014, quando Jacques Wagner era governador da Bahia. Toffoli alegou que as provas da Odebrecht tinham sido anuladas. Meu avô, se fosse vivo, ficaria escandalizado com isso. Toffoli era advogado do PT, antes de virar advogado-geral da União e ministro do Supremo, e Jaques Wagner é o líder do governo do PT. Meu avô diria que Toffoli deveria se declarar impedido, por razões éticas, e passar o caso para outro ministro que não tenha sido do PT. Mas o Supremo já naturalizou isso e muito mais; mulheres de ministros sendo advogadas em ações no Supremo, ministro fazendo gesto obsceno, isso já foi normalizado. Meu avô já está dispensado de ver essas coisas há algum tempo.
Fonte: Por Alexandre Garcia