Governo não negocia tarifa do etanol e mercado paga conta da Raízen






Porto Velho, RO- Representantes de setores como siderurgias e aço, além de associações da indústria, apontam a resistência do governo Lula (PT) em reduzir a tarifa cobrada sobre o etanol norte-americano como uma manobra para amenizar a crise financeira e operacional da Raízen. A joint venture Cosan/Shell, do bilioário Rubens Ometto, se beneficiaria das barreiras comerciais brasileiras para manter o controle sobre a produção e distribuição em regiões estratégicas, sobretudo no Nordeste.

Atualmente, o Brasil cobra 18% sobre o etanol originário dos Estados Unidos e é taxado em 2,5% sobre o etanol que exporta para aquele país. Essa diferença foi ressaltada pelo governo dos EUA sobre as práticas comerciais entre os dois países. Com tarifaço de Donald Trump — que eleva para 50% a cobrança sobre algumas brasileiras a partir desta quarta-feira (6) – lideranças da indústria nacional apertaram o cerco contra o governo para reduzir a tarifado etanol americano e assim ter margem de negociação para outros setores. Mas Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, chefiado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, indica que a redução dessa tarifa não está na agenda das negociações. Esse assunto foi tema, hoje, da Coluna Cláudio Humberto, do Diário do Poder.

Trump anunciou alíquotas globais para aço e alumínio de 25% em julho e de 50% para entrar em vigor em agosto. Produtos como aços especiais e inoxidáveis, laminados de aço e tubos e conexões de aço seguem na lista de itens que sofrerão a sobretaxa de 50%.


O Brasil importou 192 milhões de litros de etanol em 2024, sendo 109 milhões derivados dos EUA, de acordo com o BTG Pactual. As importações brasileiras abastecem principalmente regiões como o Nordeste, responsável por menos de 10% da oferta nacional.

O déficit estrutural mantém estados como Maranhão, Piauí, Pernambuco e Ceará dependentes da Raízen, que controla bases estratégicas de distribuição na região. Em 2020, a empresa investiu R$200 milhões em um terminal de combustíveis no complexo portuário de Itaqui, em São Luís (MA), que também funciona como um HUB de cargas para outros portos do Norte e Nordeste.

Entre especialistas, a taxa de 18% sobre o etanol norte-americano é encarada como medida de proteção ao etanol nacional distribuído no Nordeste. Uma redução ou retirada da taxa alteraria a matriz de abastecimento da região, ainda refém dos elevados custos de logística interna (cabotagem, dutos e ferrovias). Neste contexto, o etanol norte-americano do Golfo do México (EUA), que chegaria por via marítima em portos do Nordeste, passaria a ser mais competitivo e financeiramente vantajoso para a indústria nacional.

Em recente entrevista para a CNN, o gerente de desenvolvimento de negócios da Argus, Amance Boutin, explicou que o litro do etanol no mercado nacional está cerca de R$3,53 o litro. Se o produto fosse importado dos EUA sem a alíquota custaria aproximadamente R$3,10 por litro contra R$3,66 com a alíquota. Ou seja, passaria a valer a pena.

Em crise, a Raízen encerrou a safra 2024/25 com prejuízo de R$ 4,2 bilhões. Em março, a empresa anunciou dívida líquida de 34,3 bilhões de reais, quase 80% maior do que o mesmo período de 2024. Segundo informações do Valor Econômico, o Grupo Cosan tem um pacote de cerca de R$15 bilhões de vendas de ativos até o fim do ano. Na Faria Lima, investidores já precificam uma eventual recuperação judicial da companhia.

Fonte: Redação
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