
Por Alexandre Garcia
Tem muita gente preocupada neste país. Gente preocupada com a política — e isso envolve o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e, claro, o presidente Lula também. Estão em jogo os julgamentos no Supremo, as decisões que o Congresso pode tomar — e, agora, o presidente Lula se dá conta de que não era uma "jabuticaba" a carta de Trump, reclamando da "caça às bruxas" e impondo o que ele, ontem, chamou de um excepcional 50% ao Brasil.
Trump está mexendo com outras tarifas: 25%, 30%, 35%, 15%... E o Brasil entrou no foco, especialmente pela perseguição a Bolsonaro, que ele considera um bom presidente. Ele fala nisso todos os dias. Eu digo, brincando: o Trump parece o Lula — fala no Bolsonaro todo dia. Mas, enfim...
Estamos sentindo agora a proximidade do 1º de agosto, data que Trump disse, ontem, que será um grande dia. Um marco para o início da reconstrução da indústria americana, que foi se esvaziando ao longo dos anos. A indústria dos EUA cresceu com base sólida — não foi um inchaço vazio. Foi um crescimento com sustentação econômica, especialmente durante a Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos foram os grandes produtores de material bélico, inclusive para ajudar a União Soviética a se defender.
Depois disso, os EUA começaram a transferir suas indústrias para fora, junto com seu capital — para a Ásia, para os tigres asiáticos — e foram perdendo sua base industrial. Os governos democratas não conseguiram conter esse processo. Trump, em seu primeiro mandato, percebeu isso. A reação que ele está tomando agora tem origem ali.
Porque não existe país que sobreviva sem uma base industrial sólida. Imagine o Brasil neste momento: tamanha é nossa dependência tecnológica, eletrônica e digital. Se os Estados Unidos desligarem alguns sistemas, como o GPS, por exemplo, o Brasil simplesmente para. São sistemas de toda ordem, satélites que estão aí em cima, dos quais dependemos completamente.
Não fomos capazes de desenvolver uma produção nuclear própria, nem consolidar uma indústria forte. Grande parte da nossa indústria ficou viciada em depender do governo, especialmente no que se refere à tecnologia. Lembro de assistir a lançamentos na Barreira do Inferno, depois transferidos para o Maranhão... Enquanto isso, Índia e Paquistão estão conquistando o espaço. A Índia, que estava muito atrás da gente, tinha acabado de deixar de ser colônia inglesa no fim dos anos 1940. Nós somos independentes desde 1822. Tivemos, inclusive, um rei europeu aqui — fomos sede de um reino. Recebemos biblioteca, jardim botânico, universidade, escola de medicina... Demos um salto.
Mas não sei o que aconteceu. Tivemos o Barão de Mauá, grande industrial, e depois começamos a encolher. Hoje, a única coisa que realmente nos orgulha na atividade econômica é o agro — a agropecuária — que avançou e se modernizou. É mais moderna que a do meio-oeste americano. Mas, agora, ela também vai ser atingida. Em toda parte, vemos os sinais e as preocupações.
Investigação dos EUA
O Departamento de Comércio dos EUA vai abrir uma investigação, e a gente percebe como circulam livremente aqui produtos falsificados de marcas americanas. A livre concorrência, por aqui, não funciona muito bem. Ela não está enraizada na nossa cultura, muito menos a economia de mercado ou a economia liberal. Somos um país estatizante. Nossa política é estatizante. A ideologia da esquerda, então, nem se fala — também estatizante.
Aqui, o governo é mais importante que a nação. E isso é um dos maiores absurdos.
Fica esse recado para a gente pensar a respeito. Trump está sacudindo nossas cabeças, fazendo a gente refletir sobre que país é este — e que país queremos construir.