
Percival Puggina
E jogou fora a chave. Há dois ano e meio, Lula e seus companheiros têm um único assunto. É um pacote, que inclui os supostos crimes de tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa e deterioração de patrimônio público atribuídos às pessoas envolvidas nas ocorrências do dia 8 de janeiro de 2023.
Ali, o novo governo estacionou e envelheceu com as próprias artimanhas. Toda a energia de que dispusesse foi lançada na difusão de uma narrativa para combater seus fantasmas: o bolsonarismo, a direita e o suposto golpismo. Nada mais relevante do que usar o episódio para destruir os adversários.
Governar resumiu-se a espremer ainda mais um limão já ressequido. Refiro-me à empobrecida nação brasileira, que hoje ocupa o 87º lugar no ranking mundial do PIB per capita. Em 1984, nossa posição era a 40ª. Tal decadência, porém, não importa. Aliás, nada mais importa se a base do governo no Congresso Nacional puder sobreviver mediante emendas parlamentares, se a turma de rabo preso se sentir resguardada por seu “bom comportamento”, se o dito “Poder Executivo” preservar seu apoio no STF, se o business não for prejudicado e se a população miserável, cultivada como base do poder político, puder ser demograficamente ampliada com vista ao pleito de 2026.
Fosse o Brasil um paciente, seu boletim médico falaria em vida vegetativa instalada no dia 8 de janeiro de 2023. Mais de 200 milhões de brasileiros querem encerrar esse ciclo vicioso e viciante, mas a organização que segura o leme precisa do assunto para que sua inércia perante os males nacionais e os novos escândalos não transpareçam à opinião pública. Precisa desse funeral da Política e do Direito, da Constituição e de suas instituições, que nos é proporcionado todo santo dia.
Vivemos horas decisivas. Ficou perfeitamente audível que a base do governo acelerou o ritmo da vitrola. Apareceu algo seriíssimo no horizonte. É positivo? Não, é muito negativo, mas acrescenta um inimigo externo a enfrentar e – maravilha! – o petismo percebe que, com apoio do Consórcio Goebbels, dá para pôr na conta de suas vítimas cotidianas.
Apesar de ser tratado por Lula como um inimigo gratuito, por palavras e ações, a carta de Trump deixa bem claras suas motivações e seu interesse em ouvir o que o governo brasileiro tem a dizer. Nosso destino, porém, reservou este momento à presidência de um parlapatão, bravateiro, profissional da mistificação e dos péssimos conselheiros, limo que cresce à sua sombra. Trump chamou Lula para negociar, colocou uma cervejinha sobre a mesa e Lula, que se vê como player de sei lá que jogo, xinga de longe, fazendo cenas grosseiras para faniquitos do que resta de sua torcida.
* Percival Puggina é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org),